MOBILIZAÇÃO CONTRA REFORMA ADMINISTRATIVA

Cartilha sobre a PEC 32

Últimas Notícias

Espaço Cultural

Reflexões Docentes

Contatos SEDUFSM

(55) 3222 5765

Segunda à Sexta
08h às 12h e 14h às 18h

Endereço

SEDUFSM
Rua André Marques, 665
Centro, Santa Maria - RS
97010-041

Email

Fale Conosco - escreva para:
sedufsm@terra.com.br

Reflexões Docentes

A+ | A-

Populismo autoritário

20/11/2020

José Renato da Silveira
Professor do Departamento de Economia e Relações Internacionais da UFSM

“Os que são governados pela razão não desejam para si nada que também não desejem para o resto da humanidade”.  

Baruch Espinosa

Conforme Steven Pinker, “a segunda década do século XXI testemunhou a ascensão de um movimento contra o Iluminismo chamado populismo – mais precisamente, populismo autoritário”.

O populismo exige a soberania direta do “povo” de um país encarnado num líder forte que canaliza diretamente a autêntica virtude e experiência desse povo.

O populismo autoritário pode ser considerado uma reação de elementos da natureza humana – tribalismo, autoritarismo, demonização, pensamento de soma zero – contra as instituições do Iluminismo projetadas para contorná-los. Afirma Pinker: “por se concentrar na tribo, e não no indivíduo, não abre espaço para a proteção dos direitos das minorias ou para a promoção do bem-estar humano em todo o mundo. Por não reconhecer que o conhecimento obtido a tanto custo é a chave para a melhoria social, menospreza as “elites” e os “especialistas” e subestima o mercado das ideias, inclusive a liberdade de expressão, a diversidade de opinião e a verificação factual de alegações que servem a seus próprios interesses. Por valorizar um líder forte, o populismo negligencia as limitações da natureza humana e despreza as instituições governadas por normas e os controles constitucionais que limitam o poder de atores humanos defeituosos”.

Podemos apontar alguns elementos do populismo autoritário: a) culto à hierarquia e à figura do líder, visto como herói e/ou mito; b) nacionalismo exacerbado, missão de regeneração nacional (nada capta melhor o espírito do populismo tribalista e retográdo do slogan da campanha de Trump de 2016: “Tornar a América grande de novo”); c) considera em estado de guerra contra seus adversários políticos ("Vamos fuzilar a petralhada aqui do Acre. Vou botar esses picaretas para correr do Acre. Já que gosta tanto da Venezuela, essa turma tem que ir para lá", Jair Bolsonaro em 2018); d) militarização da política; e) exaltação de instituições militares e policiais; e) autoritarismo no discurso e nas propostas; f) descrédito constante das instituições típicas de uma sociedade democrática (imprensa livre, parlamento e o judiciário ("A atual Constituição garante a intervenção das Forças Armadas para a manutenção da lei e da ordem. Sou a favor, sim, de uma ditadura, de um regime de exceção, desde que este Congresso dê mais um passo rumo ao abismo, que no meu entender está muito próximo”, Jair Bolsonaro em 1999); g) considera o pacifismo como pactuação com o “inimigo”; h) obcecado com conspirações e ameaças inimigas; i) idealização da nação “como uma unidade total de interesses”; j) apelo à xenofobia e aos medos associados ao estrangeiro ou outros grupos minoritários ("Somos um país cristão. Não existe essa historinha de Estado laico, não. O Estado é cristão. Vamos fazer o Brasil para as maiorias. As minorias têm que se curvar às maiorias. As minorias se adequam ou simplesmente desaparecem”, Jair Bolsonaro em 2017); k) rejeição de elementos distintivos da modernidade: conquistas de igualdade nos campos dos direitos como “depravação”, algumas descobertas científicas seletivas como prejudiciais; l) valorização de tradições mais antigas e formas mais antigas de tratar determinados temas; m) intelectuais são vistos como elitistas sem nada a contribuir; n) base de apoio principal no sentimento de frustração das classes médias; o) retórica simplória no discurso público apela às emoções e limita a avaliação racional do que esta ou se deveria estar dizendo; p) valorização de corporações de interesse e proteções estatais a elas, em especial corporações ligadas a uma cultura masculina como a polícia e o exército; q) promove declarações públicas falsas e uma rede de fake News.

A democracia liberal é uma conquista preciosa e é um projeto inacabado. Na democracia, vivemos no pêndulo da ordem do possível (ação do político) e da ordem do desejável (desejo da instância cidadã).

Por fim, a maturidade política de um povo – sob a perspectiva da psicologia política – é medida através da capacidade de não se deixar enganar por falsos Messias ou salvadores da pátria.  

 

 




Compartilhe com sua rede social


© 2023 SEDUFSM
Rua André Marques, 665 - Centro, Santa Maria, RS - 97010-041