Terceira Idade e Mídia: reflexões contemporâneas são tema de pesquisa SVG: calendario Publicada em 24/08/2022 SVG: views 1643 Visualizações

A sociedade brasileira atual está muito focada em apreciar as novidades. O novo, há anos, é a prioridade. Neste sentido usamos cosméticos para hidratar e produzir efeitos momentâneos de abrandamento e disfarce de rugas gerando novo viço à pele cansada, colorimos cabelos, usamos cintas, meias calças que escondem a aparência de celulite, sutiãs com bojos que realocam os seios, mega hair, nos submetemos às cirurgias estéticas com a intenção de nos apresentarmos mais jovens, mais adequados ao mercado de trabalho e dos afetos. Todas essas situações são realizadas com a intenção, em última instância, de driblar a morte.

No entanto, todos esses procedimentos não reconfiguram nossa permanência no planeta nem alteram nossas idades. A tentativa daqueles de nós que buscam manter suas aparências mais jovens não interfere nos desgastes físicos e histórias de vida que cada um traz consigo. São as marcas visíveis e invisíveis de uma trajetória que nos acompanha. E, assim, após os 40 - 50 anos, temos que lançar mão do uso de óculos de grau, medicamentos continuados, apliques capilares, e tantos outros itens que acabam por nos auxiliar na manutenção física e emocional cotidiana.

Muitas vezes os integrantes dessa faixa etária passam a perceber que até mesmo as diversas mídias que acessam, não trazem mais informações que lhes apoiem a enfrentar a fase da Terceira Idade. Aliás, é importante destacar que o ingresso na fase etária idosa é determinado pela Organização Mundial da Saúde – OMS. Essa datação tem por objetivo a proteção da integridade deste grupo de pessoas. Cabe ressaltar que a idade para o ingresso ao primeiro grupo da Terceira Idade, são quatro, em países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento, como é a situação do Brasil, ocorre quando o indivíduo atinge 60 anos. Os critérios consideram a qualidade de vida que as pessoas desfrutam neste grupo de países. Diferentemente do que ocorre em países primeiro mundistas, onde o ingresso na fase outonal da vida se dá aos 65 anos.

De posse dessas informações, percebe-se que questões políticas, sociais e econômicas perpassam e constroem linhas tênues que definem o idoso na sociedade. Pensar sobre o envelhecimento é pensar sobre o futuro da população.

Isto posto, é importante registrar que o público em envelhecimento no Brasil vem crescendo. Em 2017, segundo dados publicados pela pesquisa PNAD Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (1), a população idosa nacional atingiu o número de 30,2 milhões de pessoas, um crescimento de 5% em relação à pesquisa anterior realizada em 2012.

Mais idosos atingem os 60 anos ou mais a cada ano, e a sociedade, de um modo geral, não se prepara para receber estas pessoas que ingressam ao período das aposentadorias, do descanso justo, das oportunidades de fazer atividades com as quais sempre sonharam e as deixaram de lado em razão da criação dos filhos, da dedicação ao trabalho, dos compromissos do dia a dia e de outros fatores individuais.
Uma pesquisa realizada com membros da Terceira Idade, em 2021, relaciona os conteúdos jornalísticos e o interesse dos idosos. Estão no topo da lista assuntos como  Atualidades, Notícias Locais e Saúde. Os idosos pesquisados demonstraram utilizar esses temas que acessam nas mídias como elementos constantes em suas conversas com familiares, amigos ou outros contatos com quem se relacionam diariamente.

Por sua vez, todos os participantes da Terceira Idade revelaram que os assuntos sobre os quais buscam informações nas diversas mídias não abordam aprofundadamente os temas que lhes interessam, sendo necessário complementá-los com informações encontradas em outros canais de comunicação. E, muitas vezes, necessitam do auxílio de filhos ou netos para encontrar as informações em outros canais, interferindo em suas condições de autogerenciamento e independência cotidiana.

Como nossa sociedade privilegia o novo, esse nicho de mercado, integrado por consumidores diários de mídias como televisão, jornais impressos, sites de notícias e emissoras de rádio, nesta ordem, estão sendo esquecidos enquanto ‘target’.

Parece-nos importante, e uma atitude inteligente a ser tomada pelos meios de comunicação, que maior atenção seja dedicada a este público que se mantém fiel à mídia. Há a indicação de que os veículos de comunicação se  ocupem em produzir materiais jornalísticos que atendam às necessidades do grupo da Terceira Idade em relação às questões do aprofundamento do conteúdo e das escolhas estético-visuais, facilitando leituras e acessos aos produtos da mídia  utilizando, por exemplo, tipos de letras maiores, imagens em movimento com tempos maiores e mais bem iluminadas, que facilitem a percepção das cenas mostradas, e com menores interferências visuais sobrepostas à imagem principal, áudios mais claros e bem pronunciados, que facilitem a compreensão destes idosos que desejam permanecer utilizando os meios de comunicação como forma de integrarem-se mais e melhor em suas relações interpessoais e ampliando suas percepções de qualidade de vida.

Karen Cristina Kraemer Abreu é jornalista e publicitária, graduada pela UNISINOS. Doutora e Mestre em Ciências da Linguagem – UNISUL e pós-doutora em Promoção da Saúde, Desenvolvimento Humano e Sociedade – ULBRA.

(1) Conforme dados da pesquisa PNAD Contínua de 2017 do IBGE (N. da A.).

 

Sobre o(a) autor(a)

SVG: autor Por Karen Kraemer
Professora do departamento de Ciências da Comunicação da UFSM, campus de Frederico Westphalen

Veja também