O que esperar do Papa Leão XIV?
Publicada em
03/06/2025
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Dia 5 maio de 2025, depois de muita expectativa, a Igreja Católica anunciava o Papa Leão XIV, nascido Robert Francis Prevost (1955), na cidade de Chicago, EUA.
Fora eleito outro papa das américas. Agora era um norte-americano que viveu e trabalhou por mais de dez anos em terras peruanas. O papa sul-americano, de nome Francisco (1936), que encantou o mundo com seu despojamento e com suas palavras de paz e acolhimento dos excluídos e menos favorecidos, encontrava finalmente um sucessor.
A pergunta persistia: o novo papa levará adiante o legado de Francisco? Mas a questão, sem dúvida, remetia a uma anterior. Qual fora mesmo o legado do Papa Francisco?
Além das iniciativas de cunho pessoal e carismático, como manter uma vida de pobreza no Vaticano, romper com os protocolos que impediam a aproximação do público, parece que o seu legado principal diria respeito a temas bastante polêmicos, que estavam na origem da renúncia de seu antecessor, Bento XVI. Dentre os temas, destacam-se a imigração, a pedofilia na igreja, o casamento (homoafetivo, de divorciados e de sacerdotes) e a ordenação de mulheres, a exemplo das igrejas ortodoxas, protestantes e evangélicas.
Como resposta temos o somatório de declarações pontuais, com bastante efeito midiático certamente, mas com pouco resultado prático. Houve o aceno para uma igreja mais inclusiva em relação a casais homoafetivos e divorciados. Francisco declarou: “quem sou eu para julgar?” E num gesto louvável, estendeu a benção a esses casais. Mas nada de sacramento do matrimônio. Também implementou uma política de nomeação de mulheres para cargos administrativos do Estado do Vaticano; no entanto, não levou adiante a ordenação sacerdotal de mulheres, menos ainda o celibato dos clérigos. Em concreto, pouco parece ter mudado na igreja católica: o matrimônio continua selando uniões indissolúveis entre um homem e uma mulher por uma classe sacerdotal masculina.
Com o novo papa, parece que a pauta da redistribuição econômica, em que se enquadrariam temas como a imigração, a pobreza e a própria paz mundial, não só se mantém ativa como parece tender a avançar, se levarmos em conta algumas declarações contrárias à política de imigração norte-americana, a favor da paz e do equilíbrio econômico. Nessa mesma linha, a própria escolha do nome – Leão XIV – nos remete a Leão XIII (1878-1903) e à famosa encíclica Rerum Novarum (1891), que denunciava as condições degradantes dos trabalhadores e a concentração de riqueza com o progresso industrial. A mesma encíclica está na raiz da Doutrina Social da Igreja, vista com bons olhos pelo novo papa, a qual coloca o cristianismo como a terceira via entre o socialismo e o capitalismo.
A julgar por algumas declarações do novo papa, a pauta das identidades parece não ter melhor sorte. Prevost já se manifestou contrário ao que definiu como “confusa promoção” da “ideologia de gênero”, e ao seu “ensino nas escolas”. Também se manifestou contra o que qualificou de “estilo de vida homossexual” e às “famílias alternativas”, entendendo que são “práticas em desacordo com os evangelhos”. Além do mais, já se declarou contrário à ordenação de mulheres.
O que esperar então do novo papa?
Temos de ter em conta que os dois últimos papas são provenientes de ordens religiosas ou monásticas, isto é, não são clérigos seculares. Francisco era da Companhia de Jesus (SJ), os Jesuítas, fundada por Inácio de Loyola (século XVI). Leão XIV é da Ordem de Santo Agostinho (OSA), o grande intelectual africano do século V d.C., da qual saiu Martinho Lutero (s. XVI), um dos artífices da Reforma Protestante. Podemos ver nisso uma tendência para uma igreja mais autêntica e menos preocupada com a fria e burocrática distribuição e fiscalização dos sacramentos. Poderia isso apontar para uma igreja que serve mais e julga menos; para um tipo de igreja que segue o modelo da vida em comum dos primeiros cristãos e o exemplo das comunidades monásticas. Talvez remotamente teremos uma igreja voltada para o serviço, na qual seus ministros serão escolhidos pela própria comunidade, independentemente de gênero ou laço conjugal.
Sobre o(a) autor(a)
Professor do departamento de Filosofia da UFSM