Assembleia Unificada no hall da reitoria diz: queremos UFSM 100% SiSU
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02/02/23 17h58m
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Estudantes, docentes, TAEs e movimentos sociais defendem ENEM e condenam retorno do vestibular e do processo seriado
Por volta das 17h30 da última quarta-feira, 1º de fevereiro, uma caminhada de estudantes, docentes, técnico-administrativos em educação e representantes de movimentos sociais saiu da frente do Planetário, na UFSM, e se dirigiu até o prédio que abriga a reitoria da instituição. Lá, diversas vozes – estudantes, trabalhadoras, pretas, indígenas, de gêneros e sexualidades dissidentes – se alternaram ao microfone, no hall de entrada, para dizer, cada uma a seu modo, o quão contrárias são ao retorno do vestibular e do processo seletivo seriado (PSS), atualmente apresentados pela Pró-Reitoria de Graduação (Prograd) como caminhos para resolver o problema da evasão estudantil.
Evasão, disseram as e os participantes da Assembleia Unificada, combate-se com políticas efetivas de assistência estudantil, que garantam condições para que estudantes trabalhadores e trabalhadoras mantenham-se na universidade; com atenção à saúde mental das e dos discentes; com combate efetivo ao racismo, ao machismo, à xenofobia e à lgbtfobia; e com a elaboração de currículos mais acolhedores e alinhados com a realidade das mais diversas gentes e povos que, graças ao Enem e às ações afirmativas, têm ingressado na universidade.
Representando a Sedufsm ao microfone, o presidente da seção sindical, Ascísio Pereira, lembrou que participou ativamente do processo de implementação do SiSU na UFSM, em 2014. À época, a reitoria defendia que 70% do ingresso ocorresse via ENEM/SiSU, porém uma proposta levada ao Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CEPE) pelo DCE foi vencedora e garantiu que 100% do ingresso fosse via SiSU. Após batalha judicial, a nova forma de ingresso foi implementada, em 2015.
Naquele momento, relembra o dirigente sindical docente, foi realizado um amplo debate não só com a comunidade interna da UFSM, mas com a população de Santa Maria.
“Fizemos audiências na universidade e também na Câmara de Vereadores. Falavam, na época, que a economia e a rede hoteleira de Santa Maria iriam quebrar com o fim do vestibular. Também disseram que a universidade ia perder sua regionalização. Com o vestibular, a regionalização era de 46%. Hoje, com o ENEM/SiSU, a regionalização é maior que 90%. Ou seja, os argumentos não se sustentaram. A regionalização aumentou e a rede hoteleira da cidade não quebrou. Devemos debater e amadurecer esse tema. Nós da Sedufsm achamos que o momento seja de diálogo com o Ministério da Educação para recuperação da matriz orçamentária, e não de discussão sobre mudanças nos processos seletivos”, disse Pereira.
“Não seremos moeda de troca”
Na minuta de resolução apresentada pela Prograd constam, além do retorno do vestibular e do processo seletivo seriado, a proposta de processos seletivos específicos para ingresso de pessoas de comunidades quilombolas; com 60 anos ou mais; atletas de alto rendimento; estudantes medalhistas em competições de conhecimento; pessoas transgênero; pessoas com deficiência; refugiados e imigrantes em situação de vulnerabilidade; indígenas, entre outros.
Contudo, nem o movimento negro nem o movimento indígena que militam na UFSM concordam com o atrelamento de tais processos seletivos ao retorno do vestibular e do PSS. Anderson Santos, docente do departamento de Geociências e coordenador do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas da UFSM (NEABI), criticou o fato de as pró-reitorias não terem convidado as e os estudantes negros e indígenas para construírem a proposta de resolução.
“A defesa das ações afirmativas não pode estar condicionada ao retorno do vestibular e do processo seriado. O vestibular e o processo seriado (antigo Peies) fracassaram em colocar negros e negras, indígenas e população de baixa renda na universidade”, disse Santos.
Mesma opinião teve Xainã Pitaguary, estudante de direito da UFSM e integrante da liga acadêmica de estudantes indígenas e do Afronte, para quem “a reitoria tem feito um discurso covarde com os estudantes indígenas”.
Criticando a falta de divulgação do já existente mas ainda incipiente processo de vestibular indígena na UFSM, ele diz que as e os estudantes indígenas defendem sim um vestibular específico, porém que não se colocam favoráveis ao retorno do vestibular e do PSS de forma universal.
“Nós não somos moeda de troca e não podem jogar sobre as nossas costas a política excludente que está sendo discutida”, atestou.
Fortalecer diálogo
Entre os encaminhamentos da Assembleia Unificada estão o fortalecimento do diálogo interno, na UFSM, e externo, na sociedade de Santa Maria, sobre a importância do ENEM como método democrático de ingresso.
Veja, abaixo, os encaminhamentos na íntegra:
- Posição contrária ao retorno do vestibular e do processo seletivo seriado;
- Adiar a discussão sobre a minuta de resolução que altera as formas de ingresso na UFSM para o início do semestre (até então, após pedido de vista do DCE, o tema deve estar na pauta do CEPE no próximo dia 10);
- Defesa de uma votação presencial sobre a proposta de resolução;
- Panfletagem na cidade para conversar com o povo sobre a importância de defender o ENEM/SiSU;
- Mobilização para o cine-debate promovido pelo Práxis Popular (coletivo de Educação Popular) na próxima segunda, 6 de fevereiro, às 19h, na CEU II, sobre o tema;
- Promoção de debates sobre o assunto na semana da calourada e também dentro dos cursos, ao longo do próximo semestre;
- Estimular que entidades, coletivos e organizações publiquem posicionamento contrário ao enfraquecimento do ENEM/SiSU;
- Criação de uma comissão para dialogar com a reitoria, a fim de que o tema seja retirado da pauta do próximo CEPE.
“Queremos a UFSM 100% SiSU e cada vez mais popular”, encerra Luiz Eduardo Bonetti, coordenador do DCE.
Na última semana, Sedufsm, Assufsm, Sinasefe, Atens, DCE e APG assinaram nota em repúdio ao envio da minuta da nova resolução sem o amplo debate com a comunidade. Leia aqui.
Texto e fotos: Bruna Homrich
Assessoria de Imprensa da Sedufsm