A UFSM está pronta para enfrentar ondas de calor extremo?
Publicada em
06/03/25
Atualizada em
06/03/25 12h30m
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Docentes e estudantes dos três campi contam como é estudar e morar na universidade em dias de intenso calor

Durante a semana passada, diversos alunos e alunas de escolas estaduais de Santa Maria passaram mal devido ao calor intenso. Se a UFSM estivesse em período letivo, será que as aulas teriam de ser suspensas? Essa reportagem é uma continuação da matéria que publicamos em nosso site no dia 21 de fevereiro, em que docentes explicaram os motivos que estão por trás dos extremos climáticos cada vez mais vivenciados pela população gaúcha. Desta vez, ouvimos docentes e estudantes para entender como é estudar, trabalhar e, em alguns casos, morar na UFSM em dias de muito calor. Também questionamos a Pró-Reitoria de Infraestrutura a respeito das propostas de arborização, sombreamento e demais medidas que garantam conforto térmico à comunidade universitária.
Taís Martinelli, estudante do curso de Enfermagem da UFSM em Palmeira das Missões, é moradora da Casa do e da Estudante e relata que a rede elétrica da moradia estudantil é tão precária que inviabiliza a instalação de ar-condicionado. No que tange às salas de aula, ela ressalta que todas em que estuda possuem ar-condicionado, contudo, ao se deslocar pelo campus, ainda se encontra pouca sombra. “No último ano, foi realizado um projeto que permitiu plantar um número significativo de árvores. Mas enquanto essas não atingem o tamanho suficiente para fazer sombra, há poucos lugares para fugir do sol escaldante”, diz ela.
Quando questionada sobre as condições do campus para enfrentar ondas de calor extremo, a estudante avalia que, embora tenham sido realizadas algumas ações pontuais, ainda não se pode dizer que exista conforto térmico suficiente. “Não vejo como uma pauta prioritária da gestão do campus. Portanto, não, a UFSM-PM não está preparada pra enfrentar essas ondas de calor sem que haja prejuízos à saúde dos alunos e servidores”,
Para Liane Weber, vice-presidenta da Sedufsm e docente do departamento de Engenharia Rural da UFSM Santa Maria, a universidade de fato não está preparada para os extremos climáticos.
“A enchente nos mostrou isso. Nem para excesso de chuva, nem de frio ou calor. Muitos prédios não têm conforto térmico – e não me refiro só a ar-condicionado, mas, por exemplo, prédios que foram construídos em locais muito úmidos e que no inverno o frio vem do chão, nos andares térreos. Outra questão é o deslocamento dentro dos campi, para que estimulemos deslocamentos menos poluentes são necessárias não apenas ciclovias, mas sombreamento. Atravessar o campus Camobi a pé é inviável. E o mesmo tem que ser pensado nos outros campi. Também precisamos de um comitê de crise que, em casos extremos, esteja preparado para a suspensão imediata das aulas”, avalia a dirigente.
Docente do campus de Palmeira das Missões e diretora da Sedufsm, a professora Vânia Rey Paz conta que as salas de aula são amplas e possuem ar-condicionado e ventilação, bem como as salas de professores e professoras. Contudo, ela pondera que poderiam ser disponibilizados umidificadores de ar também, bem como uma cantina próxima.
“Considero que precisamos nos adaptar à nova realidade climática, não podemos ficar dependentes dos atuais aparelhos elétricos, devido ao seu gasto energético, problemas de sobrecarga, apagões, e os danos ambientais que geram. Precisamos urgentemente buscar alternativas técnicas e sustentáveis para nossa comunidade”, sugere a docente.
No campus da UFSM em Frederico Westphalen, as salas em que a professora Vera Martins, do departamento de Ciências da Comunicação, leciona têm ar-condicionado, porém alguns eram bastante antigos e ruidosos.
“Eu estou terminando a minha gestão na chefia do departamento e, no ano passado, a gente fez algumas compras de aparelhos novos para atualizar esses aparelhos de ar-condicionado, para eles serem mais eficientes, porque os aparelhos modernos são mais eficientes e menos ruidosos, o que facilita e deixa o ambiente da sala de aula preparado para uma melhor condição de trabalho, tanto para os estudantes quanto para os docentes. Então as estruturas que o departamento de comunicação usa têm ar-condicionado, e os gabinetes dos docentes também. Alguns eram antigos e a gente vem aos poucos tentando substituí-los por equipamentos mais modernos”, conta a docente.
Quanto à arborização, Vera pondera que o campus da UFSM em Frederico Westphalen é relativamente novo, tendo recém completado 18 anos, de modo que o desenvolvimento das espécies ainda está em andamento. Contudo, lecionando lá há dez anos, já percebeu avanços paisagísticos durante o período. A partir de agora, sinaliza a docente, a preocupação com o plantio de árvores e com outras medidas que garantam conforto térmico se tornará ainda mais crucial.
“Eu entendo que hoje esta é uma questão de saúde pública e as instituições como a UFSM, como as escolas, vão precisar demandar dos poderes municipais, estaduais e federais que haja um investimento específico para que as pessoas tenham condições de estudar; que as crianças, os jovens, os adultos tenham condições de estar numa sala de aula e aprender, e os docentes tenham garantido a sua qualidade de trabalho”, projeta Vera.
Um caminho penoso
Maurício da Silva Ferraz é estudante do curso de Relações Públicas no campus da UFSM em Frederico Westphalen e traz a visão das e dos estudantes que precisam se deslocar a pé dentro da universidade, especialmente indo para o Restaurante Universitário. Esse trajeto, desabafa, não é todo coberto com toldos, de forma que quem passa por ele acaba sendo exposto ou exposta à hiper exposição solar.
“Estudar na UFSM em tempos de calor é um tanto desafiador, né? A gente está falando de um calor extremo, diferente do calor que fazia dois, três anos atrás. O calor de hoje em dia está muito mais alarmante, então é extremamente desafiador. A gente conta ainda com algumas salas com ar-condicionado no verão, mas não são todas, principalmente os laboratórios”, relata.
“Quem tem um ventilador tá no lucro”
Maurício também mora dentro do campus, ocupando um dos 18 apartamentos disponíveis na Casa do e da Estudante. Sem ar condicionado, conta apenas com seu ventilador para enfrentar o calor, mas o aparelho não chega perto de ofertar um conforto. No espaço onde reside, o sol bate diretamente, o que, se por um lado impede que suas coisas mofem durante o inverno, por outro torna os dias de calor ainda mais insuportáveis.
“Não podemos deixar janelas abertas por estarmos propícios a nos colocar em superexposição aos animais, tendo em vista que moramos no meio do campus e ao redor tem muita mata. Seguidamente um sapo, uma aranha, uma cobra entram nos dormitórios. Temos de nos trancar e quem tem a sorte de ter um ventilador está no lucro, porque não são todos que têm, nem isso a faculdade dispõe para os alunos”, critica Maurício.
Outro problema relatado pelo estudante é a falta de conforto ergométrico, pois o campus não dispõe de espaços adequados e confortáveis, a exemplo de cadeiras estofadas, para aqueles e aquelas que precisam passar o dia na universidade.
“Não há onde permanecer que não internamente”
Letícia de Castro Gabriel é professora da UFSM em Cachoeira do Sul. Embora lecione no período noturno, ela diz que as salas de aula recebem a radiação solar durante o dia e, dependendo da orientação da sala, do pavimento e da falta de ventilação cruzada, há a sensação de abafamento à noite. Contudo, há ar condicionado nas salas de aula e nas salas das e dos professores.
“O que é pouco convidativo, por ser um campus ainda com o paisagismo sendo executado e algumas espécies recém plantadas, é o microclima nas áreas externas. Não há sombreamento proporcionado pela vegetação, não há onde permanecer que não internamente”, comenta a docente.
UFSM aprova Plano de Logística Sustentável
Ao fim de 2024, a UFSM aprovou o Plano de Logística Sustentável (PLS), cujo objetivo é implementar ações sustentáveis nos serviços e espaços da universidade, a exemplo do consumo de energia e água, gestão de resíduos, transportes, compras e contratações sustentáveis.
A Assessoria de Imprensa da Sedufsm fez contato com o pró-reitor de Infraestrutura, Daniel Barin, para questionar se o Plano prevê medidas que ampliem o conforto térmico da comunidade universitária e garantam condições para enfrentar o calor extremo. O gestor, então, repassou as questões enviadas pela Sedufsm ao setor de Planejamento Ambiental, que respondeu afirmativamente sobre as medidas de conforto térmico, exemplificando algumas a serem implementadas. A construção de corredores ecológicos e a cobertura de uma porcentagem das vagas de estacionamento estão dentre as previsões. Veja a íntegra da resposta abaixo:
“Eficiência Energética e Climatização
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Instalação de medidores de consumo de energia elétrica em 25% dos prédios para monitoramento contínuo. (Página 42).
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Mapeamento do consumo energético dos prédios para otimizar o uso da energia e reduzir desperdícios. (Página 42).
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Cobertura de pelo menos 10% das áreas de estacionamento descobertas com painéis solares. (Página 42).
Infraestrutura Verde e Conforto Ambiental
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Implantação de corredores ecológicos no campus, contribuindo para sombreamento e regulação térmica natural. (Página 46).
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Recuperação de áreas degradadas e arborização de espaços, melhorando a ventilação e reduzindo ilhas de calor. (Página 46)
Gestão Inteligente de Edificações
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Implantação de sistemas de monitoramento automático de consumo de energia e água em novos prédios. (Página 42).
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Integração de alarmes de incêndio ao sistema de gerenciamento predial (BMS), o que pode incluir controle térmico automatizado. (Página 42).
Essas ações visam otimizar o conforto térmico, reduzir o consumo energético e melhorar a qualidade ambiental dos espaços da UFSM”, responde a equipe da Proinfra.
Outras ações previstas no PLS são o incentivo ao plantio de espécies nativas, garantindo que essas representem pelo menos 70% das espécies utilizadas na arborização; recuperação de áreas degradadas; delimitação de Áreas de Preservação Permanente (APP); e conservação e expansão da arborização e de áreas verdes.
Implementação do PLS
Segundo respondido à nossa Assessoria de Imprensa, o PLS tem um cronograma de implementação dividido em várias fases, sendo que as primeiras ações devem ocorrer ainda em 2025. Abaixo, a resposta na íntegra:
“Fases do Plano (Página 15):
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Formação da Comissão Gestora do PLS (CGPLS).
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Reuniões para planejamento das ações e diagnósticos.
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Elaboração e aprovação do Plano pela alta gestão da UFSM.
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Consulta aos gestores e Conselho Superior.
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Execução do Plano de Ações e Metas (2025-2028).
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Monitoramento, controle e avaliação periódica.
Execução das Primeiras Ações (Página 50):
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Monitoramento e avaliação semestrais do progresso das metas.
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Acompanhamento em sistema de BI para controle dos indicadores.
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Avaliações intermediárias anuais para ajustes necessários.
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Aplicação do método DMAIC (Definir, Medir, Analisar, Melhorar e Controlar) para garantir eficiência logística e sustentabilidade.
Com isso em 2025, a UFSM iniciará a implementação de medidas do Plano de Logística Sustentável (PLS) para mitigar o impacto de ondas de calor extremo, incluindo a ampliação de corredores ecológicos para aumentar o sombreamento natural, a instalação de medidores de consumo de energia e o mapeamento do consumo energético para otimizar a climatização”, afirma a Proinfra.
Ao questionamento sobre o quão suficientes são as condições estruturais da UFSM para passar por ondas de calor extremo, o Setor de Planejamento Ambiental da Proinfra pondera que a instituição ainda enfrenta desafios estruturais para garantir o conforto térmico adequado.
“[...] muitos prédios ainda carecem de climatização adequada, e o crescimento da vegetação para amenizar o calor é um processo gradual”, pontua a gestão.
Texto: Bruna Homrich
Imagem: Rafael Happke/UFSM
Assessoria de Imprensa da Sedufsm
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