Do lado de cá Publicada em 04/08/2021 4878 Visualizações
Naquele 17 de abril de 2016 eu estava no teatro, no ensaio geral para Dez(s) Amores, que teria duas sessões. Enquanto ultimávamos o espetáculo, acompanhava a sessão na Câmara dos Deputados que culminaria com o golpe parlamentar contra Dilma Rousseff. Estava do lado esquerdo da força, na defesa de Dilma que, na finalização do golpe, em 31 de agosto, disse: “A história será implacável com eles, como já o foi em décadas passadas.”
A história será implacável com aqueles e aquelas que apoiaram o golpe contra Dilma e seguem apoiando seus desdobramentos e sustentando o atual desgoverno. “O golpe é contra o povo e contra a Nação. O golpe é misógino. O golpe é homofóbico. O golpe é racista. É a imposição da cultura da intolerância, do preconceito, da violência”, profetizou. E o que vivemos atualmente?
Golpe
Como Dilma, sempre defenderei a democracia e por isso tenho me manifestado sobre o processo eleitoral para a reitoria da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Apesar de algumas pessoas escreverem aqui que a disputa era entre esquerda e direita, nunca o foi. A esquerda não compôs chapa. A direita se apresentou aos 45 minutos do segundo tempo, sem passar pela primeira etapa do processo. A situação tinha uma chapa. Poderíamos chamá-la de centro?
Infelizmente, assim como a contestação de Aécio Neves aos resultados das urnas de 2014, parte de ditos democratas e progressistas apostou no quanto pior melhor, desde que a atual gestão saísse, e se aliou à direita.
Democracia
O que estava em jogo não eram candidaturas, mas a defesa da democracia – semelhante às eleições à prefeitura de Santa Maria, em 2020: colocaríamos um negacionista assumido no poder? Ou melhor, um golpista?
“Não vão matar em mim a esperança, porque eu sei que a democracia é o lado certo da história e isso, quem me ensinou, foi a história do meu país”, disse Dilma em 18 de abril de 2016, sob a ameaça do golpe parlamentar. Assim como ela, acredito que a democracia sempre será o lado certo da história e escolher alguém que não havia participado de todo o processo seria feri-la ainda mais – já combalida pela decisão judicial errônea que mandou a consulta não ser paritária.
Não seguir a escolha da comunidade acadêmica era consolidar, na UFSM, o golpe contra o povo, que tem se alastrado por todas as instituições da República (ainda estão funcionando?)
Ironicamente, 17 conselheiros e conselheiras pensaram diferente. Dezessete era o número daquele que ocupa a casa de vidro...
Hemingway pergunta: “Quem estará nas trincheiras ao teu lado? E isso importa? Mais do que a própria guerra.” Eu sei quem estava do lado de cá. E a história será implacável com o lado de lá.
(Publicado no Diário de Santa Maria em 30 de julho de 2021)
Sobre o(a) autor(a)
Por Neila BaldiProfessora do curso de Dança-Licenciatura da UFSM, diretora da Sedufsm