Por uma Universidade feminista Publicada em 09/10/2024 257 Visualizações
(Esse artigo foi construído de forma conjunta com as professoras Cláudia Cisiane Benetti, Liane Weber, Márcia Mörschbächer e Simone Gallina, que integram a diretoria da Sedufsm)
Cerca de metade das pessoas que ocupam o magistério superior são mulheres. Mas este número não se reflete em poder universitário, nem científico. E por quê? Neste dia do professor e da professora, não temos o que comemorar, mas ainda muito o que lutar.
Diversas pesquisas indicam que na carreira acadêmica, no serviço público federal, o crescimento das mulheres é mais lento e está associado às práticas discriminatórias que as excluem de posições de poder. Além disso, a lógica da “homossocialidade”, na qual um homem fomenta e estimula determinados tipos de trabalho que beneficiam homens e não as mulheres, guia o produtivismo acadêmico e a dinâmica dentro das Universidades. Por isso, parafraseando Rosa Luxemburgo, “a revolução será feminista ou não será”, acreditamos que seja necessária uma mudança de lógica nas Universidades que, invariavelmente, altera também a educação.
Este quadro não é diferente aqui na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), em todos os campi. Somos 45,7% do corpo docente, mas ocupamos apenas 35% dos cargos de direção de Centros, coincidentemente os voltados às humanidades e cuidados: as unidades de ensino Ipê Amarelo, Colégio Politécnico, Centro de Educação (CE), Centro de Ciências Sociais e Humanas (CCSH) e Centro de Ciências da Saúde (CCS).
A depender do local no qual estamos lotadas, há diferenças significativas pelas quais passamos em relação aos nossos colegas homens, sobretudo com assédio moral. Somos frequentemente questionadas quanto às nossas capacidades em relação a determinadas disciplinas ou quando exercemos cargos de chefia – inclusive dentro do sindicato. Precisamos estudar mais, nos qualificar mais para que possamos ser ouvidas de igual para igual. É um esforço adicional que, muitas vezes, desestimula que mais mulheres ocupem determinadas posições. Se temos cota na política, por que não podemos ter também nas chefias e conselhos das instituições de ensino?
Na tese de doutorado “Relações de gênero na carreira acadêmica em Engenharia Civil”, de Érica Pinto, verificou-se, por exemplo, que saberes socialmente construídos como femininos são mobilizados no “poder universitário”, sobretudo na coordenação de cursos, que lida diretamente com questões discentes e que docentes que tenham a mesma trajetória quanto ao “poder universitário” não têm em relação ao “poder científico”. Estudos mostram que as mulheres se tornam doutoras e ingressam em um programa de bolsa produtividade do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) com média de idade maior se comparadas com os homens. Dados do projeto Parent in Science mostram que as mulheres representam apenas 35,6% do total de bolsistas produtividade do CNPq. Isto se dá não apenas porque os homens “têm mais tempo”, já que não possuem tripla jornada, na maioria das vezes, mas também porque as docentes estão mais concentradas em determinados cursos, diferente dos homens. Mulheres estão geralmente em cursos que demandam encargos didáticos mais altos, como as licenciaturas.
Na UFSM, o reitor sempre diz que a média de sala de aula dos/as docentes por semestre no Centro de Tecnologia é de 8 horas. Não vemos o mesmo no Centro de Educação ou em outros que têm licenciatura. Se a média de um centro é menor e outra maior, isso significa que faltam vagas docentes em determinados cursos, o que não ocorre em outros. O machismo estrutural está presente em todos os momentos.
No dia da professora (e do professor), lutamos por uma política de gênero efetiva na UFSM – e não apenas nos discursos e mudanças nas formas verbais – mas também nacionalmente. Com mais mulheres no poder universitário e científico, as questões de gênero virão para o centro de discussão e podermos, inclusive, colocá-las nos currículos – não apenas das licenciaturas, como previa a resolução 02/15 do Conselho Nacional de Educação (CNE), mas também nas demais graduações – formando cidadãos e cidadãs feministas.
Sobre o(a) autor(a)
Por Neila BaldiProfessora do curso de Dança-Licenciatura da UFSM, diretora da Sedufsm