O começo do fim Publicada em 20/03/2024 2588 Visualizações
“O tempo das verdades plurais acabou. Vivemos no tempo da mentira universal. Nunca se mentiu tanto. Vivemos na mentira, todos os dias”.
(José Saramago)
É inegável que vivemos em um mundo real (alguns vivem no mundo ilusório ou das fake news), cada vez mais volátil, incerto, confuso, complexo e ambíguo.
Muitas vezes, para contornar os desafios contemporâneos desse mundo BANI (a expressão Mundo BANI se refere aos desafios enfrentados no século presente). A sigla BANI significa originalmente Brittle, Anxious, Non-linear, Incomprehensible; em português, frágil, ansioso, não linear e incompreensível) e ao pretendermos tomar decisões acertadas, nós nos utilizamos de simplificações que tornarão a decisão mais prática (ou razoável). No nosso dia a dia, fazemos simplificações para a tomada de decisão.
Essas simplificações são conhecidas como heurísticas. É uma forma mais simples de lidar com um contexto complexo.
E utilizar as heurísticas são um “remédio para todos os males”, sobretudo em questões mais graves. E evidente que isso pode acarretar decisões, julgamentos tendenciosos ou completamente equivocados.
O fatídico 8 de janeiro no Brasil é um exemplo concreto da heurística. A heurística da representatividade, por exemplo, é o nome dado a um fenômeno mental no qual, diante da necessidade de tomar uma decisão de relativa complexidade, o ser humano se apoia em seu repertório pessoal para julgar uma coisa, pessoa ou situação.
Vale destacar que aquele dramático dia foi uma desesperada articulação golpista, tramada e planejada por uma cúpula formada de civis-militares como a “última tentativa” de derrubar o novo governo. Talvez não seja a última tentativa ainda!
Nesse sentido, as fake News se tornaram instrumentos essenciais de grupos, partidos, instituições e até mesmo governos para convencer, manipular e doutrinar as sociedades. Isso não é novidade! E esse expediente foi utilizado por governos totalitários no século XX. O século que testemunhou o “nascimento” da propaganda política para as massas.
No século XIX, as elites político-econômicas restringiam o conceito de povo a uma minoria representativa. No século XX, tivemos a ideia de povo como massas amorfas, disformes, sem rostos, sem almas.
A “Grande Guerra” e a II Guerra Mundial revelaram que não passavam de “rebanhos ao abate” ao gosto de seus ditadores.
No século XXI, “le retour du tragique” (o retorno do trágico), a extrema direita está de volta ao jogo político no Brasil e no mundo. Ganhando eleições ou fortalecendo-se como segunda, terceira opção dos eleitores. O “rebanho” agora tem rosto, camiseta, foto, vídeo, bandeira e alma.
Sobre o(a) autor(a)
Por José Renato Ferraz da SilveiraProfessor do departamento de Economia e Relações Internacionais da UFSM