A UFSM e os mercadores da saúde Publicada em 30/08/2013 168 Visualizações
A essa altura dos acontecimentos não há espaço para dúvidas ou enganos: a privatização do Hospital Universitário (Husm) através da implantação da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) é prejudicial à sociedade, à universidade e à dignidade humana. É justamente por isso que o governo insiste nas ameaças, e está sendo coerente com a ação que o vem caracterizando e que provocou as manifestações populares que encheram as ruas desde julho.
Uma empresa na administração do Husm significa tirar da própria universidade a gestão didática do hospital-escola.
É quebrar a autonomia da universidade no tratamento de suas necessidades. É implantar no público o comércio e estabelecer o lucro como norma. Para os favoráveis a essa aberração, somente os ganhos individuais (e o governo tem sido generoso na oferta de ganhos a alguns poucos) justificam a entrega do patrimônio público. Pior ainda quando o monopólio da exploração dos planos médicos é apontada na publicidade como algo positivo. Sabemos que não é, ainda mais que inevitavelmente, a privatização significa a captação de recursos no mercado. Eufemismo para a participação de planos de saúde aonde havia atendimento público e gratuito.
Se a Ebserh cerca o Husm há tempos e não se instala definitivamente não é por falta de negociação, mas por falta de argumentos que respondam e contradigam os prejuízos que causará. A empresa, em todas as hipóteses, deixará o HUSM irreconhecível, atendendo a demanda das empresas e do lucro. Não se trata de conjecturas, mas de lógica. De algum lugar virão os recursos e o governo quer se desincumbir dessa responsabilidade. O modelo utilizado (HCPA) tem duas portas: aquelas que são pagas e aquela que atende ao SUS. Não é preciso ser mágico para saber que há uma distinção, nesse país onde somente os pobres são julgados e condenados.
Os ricos tudo têm. A eles, a lei privilegia e defende. O próximo reitor da UFSM tem o dever de combater essa privatização. Ele sabe, como ninguém, por ter sido diretor da SEDUFSM e acompanhado essa luta desde a assinatura da MP 520 (sem falarmos de ser do Centro de Saúde), que existe em todo país a luta contra a Ebserh, que muitas universidades têm resistido às ameaças neoliberais da presidenta e de sua camarilha. Privatização não é opção para o servidor público que deve defender o patrimônio público e a própria população. Negociar para privatizar é a ideia da atual administração. Foi para se diferenciar que houve mudança. Esperamos que isso se cumpra.
(Publicado no Diário de Santa Maria de 30.08.2013)
Sobre o(a) autor(a)
Por Rondon de CastroProfessor do departamento de Ciências da Comunicação da UFSM