Educação e rádio: uma parceria no combate à desinformação Publicada em 24/05/2023 5179 Visualizações
No início de maio, o Comitê Gestor da Internet no Brasil divulgou uma pesquisa, em parceria com a Unesco, mostrando que quase todas as crianças e jovens brasileiros entre nove e 17 anos têm acesso à internet, mas 43% não sabem verificar se uma informação é falsa ou verdadeira. Para além da necessidade urgente de haver uma regulação das plataformas digitais, que pouco fazem contra e ainda lucram com a desinformação, o problema exige um enfrentamento pela via educacional.
Só a educação será capaz de mudar, a longo prazo, uma cultura de ataques à ciência, à democracia e ao jornalismo que atinge pessoas de todas as idades e que facilita a adesão a discursos desinformativos. Projetos de educação midiática (literacia, letramento ou alfabetização) têm sido adotados em diversos países, com êxito. No Reino Unido , a educação midiática é ensinada nas escolas há pelo menos 32 anos, portanto muito tempo antes de a questão da desordem informativa alcançar o patamar atual. No Brasil, a educomunicação há muito vem sendo trabalhada em nossas universidades, e levada para escolas da educação básica por meio da extensão.
Só recentemente, no entanto, com o atual governo, discute-se a implantação de uma Política Nacional de Educação Midiática. Ela já aparece na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), nos itinerários formativos, mas esbarra, na prática, com a falta de investimentos na formação de professores para a área. No Brasil, diferente de outros países da América Latina, não há licenciatura em Comunicação. Se formássemos professores de Comunicação / Jornalismo para atuarem no ensino básico, poderíamos ter condições mais propícias para levar o combate à desinformação, via educação midiática, para crianças e jovens.
Aos poucos, tem se ampliado o reconhecimento do papel da escola no processo de enfrentamento à desinformação. Em fevereiro deste ano, o Supremo Tribunal Federal (STF) lançou o projeto STF na Escola , por meio do qual pretende levar aos estudantes informações sobre a Suprema Corte, a Constituição Federal e a democracia, de forma simples e didática. A iniciativa faz parte do Programa de Combate à Desinformação do Supremo, que integra 23 universidades de todo o país, incluindo a UFSM. O projeto voltado para as escolas é desenvolvido por meio de visitas ao tribunal, palestras nas escolas, e divulgação de uma cartilha.
No campus da UFSM em Frederico Westphalen, as professoras Mirian Redin de Quadros e Luciana Menezes Carvalho (autora deste artigo) coordenam uma ação de extensão voltada para o combate à desinformação por meio de parcerias com rádios comunitárias da região. O projeto prevê a realização de oficinas nas emissoras e produção e veiculação de conteúdos sonoros nas rádios, com foco em três temas: Ciência, Política e Mídia. Os e as estudantes que integram o projeto desenvolverão programetes em áudio, criativos e educativos, abordando conceitos que, muitas vezes, trazem dúvidas à população. O primeiro material, em fase de produção, buscará responder o que é e o que faz o STF, contando com a participação da Rádio Justiça.
A meta é que sejam produzidos 28 boletins educativos sobre os três eixos temáticos, a serem veiculados, inicialmente, em cinco rádios comunitárias da região gaúcha do Médio Alto Uruguai, além de produções para as mídias sociais das emissoras. Cada emissora participará de uma oficina in loco, com as professoras e bolsista do projeto, em que serão apresentadas estratégias de combate à desinformação. A aposta no rádio tem base na capacidade deste meio de furar as bolhas polarizadas da internet. Com sua linguagem próxima e acessível, o rádio pode ser um parceiro fundamental da educação, como já havia pensado Roquette-Pinto, e ajudar a formar cidadãos mais capazes de saber a diferença entre informação e conteúdo falsou ou enganoso.
Luciana Carvalho – professora adjunta do Departamento de Ciências da Comunicação do Campus da UFSM em Frederico Westphalen; líder do Grupo de Pesquisa Desinfomídia; integrante da Rede Nacional de Combate à Desinformação e representante da UFSM no Programa de Combate à Desinformação do STF.
Sobre o(a) autor(a)
Por Luciana Menezes CarvalhoProfessora do departamento de Ciências da Comunicação da UFSM