Santa Maria e UFSM Publicada em 31/05/2023 4917 Visualizações
Tendo sua origem em um acampamento militar, com engenheiros e técnicos da Comissão Demarcadora do Tratado de Santo Ildefonso, Santa Maria foi crescendo sem muito planejamento, desde o final do século XVIII. Daquele traçado de duas ruas, Acampamento e Pacífica, mais uma praça e uma capelinha, nossa cidade chegou ao tamanho que tem hoje, graças a dois movimentos econômicos: a chegada da ferrovia e a presença dos ferroviários, na primeira metade do século passado, e a instalação da primeira universidade federal no interior do país, com a presença massiva de estudantes, desde 1960.
Nossa cidade foi contemplada com o pioneirismo da interiorização do ensino federal no país, pela atuação de seu fundador, professor Mariano da Rocha Filho. Por esta época, o primeiro influxo de desenvolvimento trazido pela ferrovia já demonstrava fadiga e deperecimento. Coube aos investimentos na educação superior a construção de uma nova comunidade. Nestes 165 anos da cidade, tudo o que podemos pensar sobre nosso tamanho tem relação com a presença da UFSM na economia, na cultura, na prestação de serviços, na formação profissional qualificada, na assessoria de projetos para o futuro.
À parte a contribuição para o desenvolvimento econômico da nossa cidade (a UFSM já foi responsável por 25% do PIB local), não tenho dúvida de que é o Ensino Superior a vacina contra a ignorância, que tende a assumir ares de epidemia nacional. O ensino universitário é humanizante, e desconheço instituição com tal capacidade dentre todos os mecanismos sociais. No mínimo, ensina o comportamento ético na pesquisa, no uso do conhecimento, no exercício profissional. Tal formação pode vir da família (empiricamente), ou da religião (com os riscos de fundamentalismos), mas a formação universitária vem através de método e de reflexão. Ou seja, só não aprende a ser humano quem tem algum problema de caráter. Alguém que, mesmo diante de evidências, insiste em usar de sofismas para fundamentar seus argumentos. A UFSM está entre as instituições que mais produzem pesquisas no país, elevando a capacidade científica para torná-lo uma Nação soberana.
No Brasil, a concepção da universidade é estruturada pelo tripé: ensino – pesquisa – extensão. Mais de 90% da pesquisa de ponta em nosso país é feita nas universidades públicas. Embora a rede de escolas técnicas de ensino superior tenha se expandido nos últimos anos, ainda é para a Universidade que a maioria dos egressos do Ensino Médio se volta. Em Santa Maria – como no Brasil ou no mundo – precisamos de gente de ação, dentro da legalidade, com vistas ao bem comum e à solidariedade, não aos métodos escusos de enriquecimento, ao lucro imediato e excludente. Mais educação e não menos. Mais ética e menos falácia. Um mundo mais justo e igualitário é o que a formação humanística preconiza. Santa Maria deve agradecer a presença da UFSM em sua jornada rumo ao progresso.
Sobre o(a) autor(a)
Por Orlando FonsecaEscritor e professor aposentado do departamento de Letras Vernáculas da UFSM